Brumas: como se tornar ou tornar
um “ser” em estado gasoso que ocupa determinado espaço em determinado momento.
Acordar é uma tarefa difícil, até
para aqueles que não gostam de dormir.
Abri os olhos às 06:12 da manha,
e a primeira coisa que vi foi um tufo de cabelo meu e uma mancha de baba no
travesseiro. Curiosamente, não sei se pelo sono ou por que diabos ali não
estavam apenas cabelos, pois tinha certeza que ouvi dizerem “Adeus”.
Acordei novamente e dois minutos haviam-se
passado e quando se abriram nada vi além de um anuviado, como se uma espessa
camada de neblina pairasse na superfície de meus olhos. A cada piscadela, por
um brevíssimo momento conseguia ver com nitidez o ambiente em que estava, de
modo que logo após a neblina novamente oprimia minha visão. E assim, piscando
incessantemente, passei metade da minha manhã.
Botei colírio, soro fisiológico e
nada até que pensei que aquela sensação não iria tardar em passar.
Até o final do dia não sai de
casa e não soltei uma palavra. Preferia dormir naquele momento, contudo além da
visão anuviada havia uma inconveniente sensação de areia no olho a cada vez que
meus olhos permaneciam fechados por mais que alguns segundos. Resumindo, ou eu
ficaria de olhos abertos e sem ver quase porra nenhuma ou sairia na rua num
pisca-pisca frenético e com olhares de “olha que maluco” ou” olha, que
coitadinho”.
Chutar a quina do pé da cama com
o dedo mindinho foi o primeiro sinal divino do meu organismo pra pronunciar
minha primeira e nada delicada palavra do dia... Buce... . Eu via as letras, uma a uma desaparecendo dentro
da neblina e meus lábios se movimentavam sem emitir nenhum som.
Enfim, esperei o dia passar,
cumpri com todos os compromissos inadiáveis e que poderiam ser feitos em casa.
Até arrisquei um bom dia ao rapaz que trouxe meu yakissoba pro meu jantar.
Coloquei um óculos escuro e o atendi na base pisca alerta. Genial! Óculos
escuros.
Mas foi e é só. Está decidido que
amanhã irei a um oftalmologista. Talvez um problema seja realmente sério, não
se sabe. Na verdade não sei como ainda consigo. Meus olhos estão cansados, a
pálpebra pesada, mas terminarei este parágrafo. As piscadelas estão ficando
mais espaçadas e estou começando a ver as letras do teclado sambarem ao som de
“On the run” do Judas. Meu celular está tocando. É minha namorada, tenho que
atender. Ela está achando que o telefone está mudo. Vai desligar.
Muito bom!
ResponderExcluirTexto Excelente!
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