terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Despedaçar

Sair do meu reduto foi a pior decisão que tomei nos últimos 2 meses. É inacreditável como o destino nos prega situações bem arquitetadas e por vezes difíceis de entender.
Depois de várias semanas me embriagando, tomando calmantes pra dormir e vivendo uma greve de fome solitária – sem nenhum espectador, somente a minha consciência me recriminando pela ruína aparente – finalmente consegui abrir os meus olhos inchados de tanto choro, que por falta de lágrimas, começavam a voltar ao normal. O céu me encarava desafiador, era insuportável admitir tamanho azul, tamanha limpidez, enquanto que eu despedaçava compulsivamente.

A grama úmida, recém irrigada, me convidava para o mundo. O ar que enchia os meus pulmões era como o ópio para a vida. Enfim, eu estava de volta apesar das feridas em processo de cicatrização. Olhei as vitrines, observei as pessoas, cada gesto, cada sorriso, cada toque. As mãos que se enlaçam, os dedos que acariciam, um abraço apaixonado, o homem que foi meu, beijo, lábios de amor, outra mulher.

Estava entorpecida, fixando por 5, 30, 43 segundos... por muitas horas e minutos, pela eternidade eu acompanhei aquele casal que ria feliz o amor. E sem saber gargalhavam da minha desgraça. Todas as feridas foram reabertas,e chorava, e sofria e sangrava no auge da minha dor.

Andei debilmente ignorando os obstáculos que surgiam em meu caminho, corri, chorei, parei, ofeguei, corri, parei, chorei, respirei, lembrei, chorei, andei, corri, esqueci, parei. Estava no banheiro, encarando o rosto sofredor refletido no espelho, machucada, com hematomas. Gaveta, remédios, tesoura. Um fim bem dramático para fazer jus às últimas semanas passadas, as piores da minha vida. Respirei, mirei os pulsos, nada mais de clichês, nada mais doloroso e fatal: Sentir o corpo desfalecer e a alma se esvair a cada gota de sangue. A tesoura aberta: Um convite. E finalmente, sorri. Um sorriso ainda pálido, uma réstia de esperança.

Peguei minha mochila e sai para a vida.

Por Milazul Marinho

5 comentários:

  1. Nossa! Caraca estou realmente espantada como tá tudo aí, cada pedacinho da dor bem descrito... Você mandou super bem no texto, mesmo! Não mudaria uma vírgula! Texto maravilhoso!

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  2. Texto Sensacional Mila!!!
    Concordo com Paloma!

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  3. quem nunca passou por isso um dia? a dor, a angústia, o sofrimento, a espera. e aconteça o que aconteça não adianta tentar se esquivar desses momentos, assim como não consegui tirar os olhos do texto.
    muito bom!!!

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  4. genial.
    mto bem escrito.
    cmo nosso amigo daniel maciel comentou acima, não há uma única pessoa que não tenha passado por isso.
    talvez o seu melhor texto aqui do blog! parabéns!

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  5. há sempre uma luz la no fundo.. uma centelha que seja, que sempre nos faz levantar

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