quarta-feira, 13 de julho de 2011

Caro(a) desconhecido(a)

Essa noite eu tive um sonho. Sonhei que estava num cemitério, sentada numa cova, vendo o dia passar, quando veio de lá esse homem de cabelos grisalhos, magro, cerca de quarenta anos, parecendo exasperado.
"você viu por aí o túmulo de um certo Jeremias da Silva?", perguntou. Respondi que não, e ele disse "Ainda bem, porque Jeremias da Silva sou eu. Se você vir meu túmulo por aí algum dia, você colocaria flores nele? Porque eu sei que ninguém vai colocar...".

Acordei três horas da manhã, chorando, e só parei quando o sol nasceu, ao notar que Jeremias da Silva era eu. Há muitos anos li algo a respeito de que todo mundo tinha o direito de se matar, mas contanto que fosse na própria árvore de enforcamento: plante sua árvore, e se quando ela tiver altura o suficiente pra o suicídio você ainda quiser dar um fim na própria vida, faça-o. Hoje de manhã, ao me levantar, me olhei no espelho. Meus olhos estavam tão inchados que pareciam duas ameixas, quando decidi que não aguentaria esperar a árvore crescer.

Sei que nem te conheço e que você não tem nada a ver com tudo isso, mas eu gostaria tanto que tivesse! Gostaria tanto que você me olhasse no chão e gritasse "oh não, ela não!". Que você chorasse a minha morte e pensasse em se matar também. Que, ao sair correndo contar ao mundo o que tinhaacontecido mais pessoas se entristecessem, se assustassem, "nossa, porque ela fez isso? era tão feliz!".

Deixo aqui meu testamento. Toda a fortuna que eu não fiz, deixo pra minha adorável namorada e esposa Natalie, com que eu passei todos os momentos importantes de minha vida. Os direitos autorais de toda a obra que eu não escrevi vão para minha filha Rosie, para mudar a vida dela assim como ela mudou a minha no exato instante em que eu e Natalie a adotamos. Para Jean, a minha amante, deito toda a biblioteca que eu não acumulei esses anos de minha vida. E para Jeff, o eterno amigo, deixo o cavalo que nunca comprei, para ele correr, como nunca corri, pelos campos, cabelos ao vento.

Mas de verdade, deixo pra você, que está lendo essa carta, o amor acumulado toda a minha vida para essa namorada, esposa, amante, filha e amigos que eu nunca, nunca tive.

Hoje, antes de tomar o veneno e deixar o bilhete na porta, tomei banho pra você, penteei os cabelos com esmero pra você, botei meu único perfume caro, vesti meu melhor vestido, vermelho, passei horas escolhendo os brincos e o colar, me maquiei. Tudo pra ficar linda pra você. Por favor, me leve contigo na tua vida.

Beijos daquela que é, a partir de hoje e para sempre, sua,
Ana


Por Cassandra

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