À noite despertei de súbito.
Meu peito subia e descia rapidamente ao descompasso de uma taquicardia que me
pôs sentado na cama. Olhei para o relógio: Quatro da manhã. Seria mesmo
possível? Não...eu não podia acreditar. Era muito cedo para levantar e o
negrume da noite ainda pairava sobre a avenida vazia.
Fiquei de pé, recostei-me na
janela e suspirei, balançando o corpo vagarosamente para frente e para trás,
como se ninasse a mim mesmo. Lá fora não havia nada, exceto o silêncio. Tudo
parecia recomeçar. Por mais que tentasse entender, não conseguia. Por quê?
Estava sonhando. O mesmo
sonho que me atormentava todas as noites, me fazendo estremecer e acordar
desnorteado. Às vezes, aos prantos.
Foi quando alguma coisa se
mexeu lá fora. Eu teria enxergado bem? Não...foi impressão. Mas eu podia jurar
ter visto...Senti uma angústia no
peito. Tateei a cômoda em busca dos meus óculos, mas não achei. Não me
preocupei, pois naquela época do ano o sol não tardava a aparecer, lá por volta
das quatro e meia.
Enquanto o vento acariciava
as copas das árvores que enfeitavam a avenida escura, parecia cantar uma melodia
solitária.
-...eu..estou...aqui...
Não...o sol estava demorando
demais para nascer. Os segundos se arrastavam em intervalos de eternidade. Mas
e se ele não aparecesse? E se o sol nunca mais viesse? Sim...eu desconfiava que
ele não viria...
Foi quando começou.
Barulho lá fora. O som
emanava de forma disforme e entorpecente. Era difícil dizer de onde tal vibração
vinha. Era como se algo se arrastasse pelo chão, rápida, esguia e implacável. O
que fosse, nada poderia deter. Fez-se silêncio e só restou a minha expectativa
em meio ao escuro.
Repentinamente, o barulho
tornou-se ensurdecedor.
Cada parede ressonava com o
tremor que crescia a cada segundo. O que se aproximava estava cada vez mais
perto e eu podia sentir a presença daquilo.
A porta abriu.
Eu não tive nem chance de
ver o que era, ou se era. Corri desesperadamente em direção à rua, ainda cego
pela escuridão. Corri tanto que nem sabia mais para onde e nem de onde eu vim.
Corri até esquecer quem eu era. Corri até tropeçar na Verdade e cair pelo chão.
A Verdade... Me disseram que
a verdade é para poucos. Senti repulsa por aquilo que eu tinha medo de
descobrir. Mas eu não conseguia olhar para trás.
E lá estava eu, de bruços e imóvel,
estatelado no chão. Não conseguia mexer um milímetro do meu corpo. E eu senti
que algo se aproximava....mas Deus, eu tinha corrido tanto....eu tinha corrido
TANTO! Como ele foi me alcançar?
Senti alguém me erguendo do
chão lentamente...
- E se você tivesse outra
chance, você faria tudo igual? Você fugiria de novo? Você olharia para trás?
Eu não podia falar. Não pude responder. Estava completamente
paralisado pelo medo. Senti meu corpo ser atirado para cima com muita força. E
então e comecei a cair, cair e cair...uma queda livre sem fim. Até que atingi o
solo.
-...eu...estou...aqui...liberte-me...liberte-me....
Despertei de súbito. Meu
peito subia e descia rapidamente ao descompasso de uma taquicardia que me pôs
sentado na cama. Olhei para o relógio: Quatro da manhã. Seria mesmo possível?
Não...eu não podia acreditar.
- Mais uma vez aquele sonho
idiota...
Por Mzar
ouroboros
ResponderExcluir...(suspiro)...texto tenso...
ResponderExcluirGostei da Estréia Mzar!
ResponderExcluiré isso mesmo, a verdade sempre nos perseguindo e por mais que tentemos nos esquivar, ela é implacável! belo texto mzar!
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