Se tem algo que eu odeio é esse povo que vê flor em pedra. Planta de pedra é limo, aquela coisa inerte, que mais parece morta. É trepadeira, aquele ser asqueroso, grudado à pedra, chupando o chão, se alimentando da imundície e se tornando parte integrante da imundície.
Explico. É que parece uma epidemia o olhar medíocre sobre o ser humano que elucubra sobre sua suposta beleza, seus supostos grandes atos. Se fala muito de calor humano, mas ninguém vê que ao se tocar um ser humano se sente o mesmo do que se sente ao tocar qualquer objeto: um frio cortante e metálico. Um silêncio apavorante. E se, aos tocarmos, tivermos a coragem de olhar nos olhos da criatura, mas tétrica se torna a imagem. Aqueles olhos amarelos brilhando de pavor.
Errar não é humano, o ser humano é que um erro, uma piada de mau gosto. Ora, não nascem flores nas pedras; arte, deus, liberdade, amor, política, compaixão, balelas! Só o que vejo sou eu, desamparado, cercado por esses amarelos.
Todas essas décadas vivendo minha vida. Trabalhando e produzindo. Colocando minhas mãos ao trabalho para produzir a minha paz, doando cada segundo e cada gota fria que sai de minha testa para comprar meu sossego, e o que ficou foram os pesadelos. Todas as noites mãos amarelas me roubam os filhos. Gigantescas picas de ouro matam minha mulher a pancadas no crânio, depois de estuprá-la violentamente. Eu, dentro de uma multidão de estátuas douradas tento andar sem me esbarrar em ninguém, mas um passo em falso e todas as pesadas figuras desabam em cima de mim e me esmagam. E mãos, mãos gélidas me tapam o nariz e a boca, me seguram duramente enquanto eu me debato até a morte.
Pesadelos. Esses dias eu tive mais um. Desses que, com o passar do tempo, você já não tem certeza de se você sonhou ou viveu. Eu estava deitado na cama pela manhã, e através da janela entravam os primeiros raios de sol do dia. A luz me tocava, mas eu me sentia frio. Tinha vontade de me espreguiçar, mas não conseguia. Meus olhos estavam voltados para o teto branco, que naquela ocasião estava tingido com um reflexo dourado.
Por Cassandra
fiquei com frio
ResponderExcluireu me encolhi no canto da parede achando que poderia cair se nao tivesse algo em que me apoiar..
ResponderExcluirfantástico!
PQP, me senti sozinho... solitário e abandonado!
ResponderExcluirIntenso o texto!
Parabéns Cassandra!